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Capítulo 2: Orígenes de Alexandria

Orígenes de Alexandria tinha apenas dezessete anos quando se tornou o líder da igreja em Alexandria. A perseguição do imperador Severo começou em 202 d.C., e Clemente fugiu para Antioquia. A perseguição também resultou na prisão do pai de Orígenes e, por fim, em seu martírio. O próprio Orígenes teria sido exposto às autoridades romanas caso sua mãe não tivesse escondido suas roupas para que ele não saísse de casa. E sendo assim, ela salvou sua vida.

Quando seu pai foi executado, o patrimônio familiar foi confiscado pelo governo, e a família ficou reduzida à pobreza. Todavia, em Alexandria, apareceu uma rica senhora em que levou Orígenes para sua casa e lhe proveu sustento para que ele pudesse pregar a Palavra. Mesmo assim, Orígenes insistia em sustentar-se, e logo abriu uma escola de gramática.

Logo, um grande número de não-cristãos estava mandando seus filhos para sua escola, solicitando que também os instruíssem em assuntos religiosos, e então Orígenes alcançou muitos convertidos a Cristo. Vendo seu potencial, Demétrio, o bispo de Alexandria, o nomeou aos dezoito anos de idade para dirigir a grande Escola Catequética de Alexandria (o Instituto Bíblico deles).

Orígenes levou suas funções muito a sério, e insistia em receber o menor salário necessário para seu sustento. Ele comia pouco e estudava muito durante a noite. Naqueles dias, a austeridade monástica era muito respeitada, e em pouco tempo tornou-se bem conhecido por sua santidade. Seguramente, ele não só era um crente sincero, mas um "entusiasta" – uma palavra mais agradável para um fanático por Cristo.

Seus alunos se inspiravam por sua coragem, e muitos deles foram martirizados pelas autoridades romanas. Orígenes esteve no lugar de execução deles a fim de encorajá-los na fé. Porém, seu entusiasmo excessivo por Cristo o levou (por volta de 206 d.C.) a castrar-se, quando tomou ao pé da letra as palavras de Jesus em Mateus 19:12. O bispo inicialmente o aplaudiu, contudo mais tarde condenou tal ato – e com razão.

Em 213, Orígenes visitou Roma brevemente, e depois foi à Arábia a convite de algumas das tribos beduínas que pediram ensinamentos cristãos. Retornou a Alexandria em 216 próximo à época em que o imperador romano massacrou muitos cidadãos porque alguns deles o haviam ridicularizado. Orígenes muda-se para Cesareia na Palestina, onde os bispos o persuadiram a explicar as escrituras publicamente, porém eles não o ordenaram formalmente. Tudo isso começou a tornar-se um problema para Demétrio, o bispo de Alexandria, que, nesse momento, estava ficando com ciúmes do talento e da popularidade de Orígenes.

Demétrio, então, escreve a Alexandre, bispo de Jerusalém, e também a Teoctisto, bispo de Cesareia, reclamando que estavam permitindo que um ministro não-ordenado ensinasse o povo. Porém, a resposta foi que essa prática havia sido sancionada várias vezes no passado. Mas, Demétrio ficou insatisfeito e enviou uma carta ao próprio Orígenes ordenando que regressasse imediatamente para Alexandria. Orígenes obedeceu humildemente, e retomou sua posição como encarregado da escola.

Cerca de cinco ou seis anos depois, Orígenes recebe um convite de Mamaea, a mãe do próprio imperador romano Alexandre. Ela vivia em Antioquia, e o convidou para ensinar-lhe, e inclusive enviando uma escolta militar completa para ele. O bispo Demétrio não pôde fazer nada a respeito. Após sua estada em Antioquia, ao passar pela Palestina, Orígenes foi ordenado como presbítero pelos bispos de lá.

Demétrio se ofende por ter sido ignorado pelos bispos, e, desse modo, declara que Orígenes inadequado para o sacerdócio, com o argumento de que Orígenes tinha se tornado eunuco por conta própria. Sua posição foi baseada na lei do sacerdócio do Antigo Testamento em Levítico 21:20. Aqui vemos a evidência de que, no terceiro século, o sacerdócio da igreja já estava regressando às exigências do sacerdócio levítico em lugar do sacerdócio de Melquisedeque conforme estabelecido por Cristo.

Nessa época, Orígenes havia escrito uma série de livros e comentários que estavam se espalhando pelo mundo da língua grega, convertendo-o em um dos professores da Bíblia mais conhecidos da época. Nesse ínterim, Demétrio fez sua vida mais difícil apesar da humilde submissão de Orígenes, e por isso não demorou muito para que Orígenes decidisse mudar-se para a Palestina em 231, onde foi calorosamente recebido pelos bispos de lá.

Mesmo assim, Demétrio reúne todos os bispos do Egito para condenar Orígenes, mas eles nada fizeram além de privá-lo de seu ofício e cargo de professor na Escola de Alexandria. Demétrio ficou ainda mais enraivecido e convocou outro concílio (232 d.C.) convidando apenas os bispos que concordavam com ele ou aqueles que pudessem ser manipulados, e, assim, conseguiu excomungar Orígenes da igreja.

No Oriente, os bispos ignoraram sua excomunhão e acolheram Orígenes abertamente, mas no Ocidente, particularmente em Roma, o assunto foi diferente. A mente romana estava mais interessada na lei e na ordem do que na justiça, e assim, Orígenes tornou-se um rebelde não cristão para eles. Não foi por nenhum dos seus ensinamentos que Orígenes foi condenado e excomungado, mas sim para satisfazer o orgulho de um bispo carnal que se ofendeu com seus companheiros bispos na Palestina por honrar um homem que havia alcançado maior popularidade que ele mesmo.

O bispo Demétrio morreu pouco depois disso, mas o dano estava feito. Os bispos sucessores em Alexandria respeitaram o decreto de excomunhão e não tentaram revertê-lo. Enquanto isso, Orígenes continuou a escrever seus comentários na Palestina até que um novo imperador romano chamado Maximiano chegou ao poder (235 d.C.). Maximiano dá início a outra onda de perseguição aos líderes da igreja fazendo com que Orígenes se escondesse e, mais tarde, se mudasse para Atenas.

Orígenes continua a viajar e a ensinar a convite de vários bispos, inclusive manteve correspondência (em secreto) com o primeiro imperador cristão, Filipe, o Árabe, que governou de 244 a 249. Filipe foi morto por Décio em uma batalha, e Décio passa a novo imperador em 250. Talvez por isso, Orígenes fora preso e torturado por algum tempo com ameaças de ser queimado vivo. Orígenes era fiel aos seus princípios e não negou sua fé. Quando Décio morreu em 251, seus torturadores permitiram que Orígenes "escapasse".

Orígenes morreu dois anos mais tarde na cidade de Tiro (253 d.C.). Orígenes tornou-se o universalista mais conhecido da igreja primitiva, mas isso por ter sido o escritor mais prolífico e o teólogo mais influente de sua época. Deve-se ressaltar, entretanto, que ele não precisou convencer nenhum dos bispos de língua grega de que Deus salvaria toda a humanidade, pois tal ensinamento não era sequer um problema, afinal todos eles compreendiam sua veracidade. Se tivesse sido considerado heresia, teriam rejeitado e excomungado Orígenes por ensiná-lo.

Entrei em alguns detalhes sobre a vida de Orígenes porque um século e meio depois, em 400 d.C., Orígenes se tornaria novamente centro de controvérsia, o que traria descrédito aos ensinamentos do próprio universalismo. A controvérsia mais uma vez, tinha pouco ou nada a ver com os esses ensinamentos em si, mas teve tudo a ver com as disputas de ego e política entre bispos.

Contudo, tudo isso aconteceu após a Era de Ouro do Universalismo no século IV, na qual o ensinamento atingiu seu apogeu através de Gregório de Nazianzo e Gregório de Níssa. Na introdução dos escritos de Gregório Taumaturgo ("o fazedor de milagres”), bispo de Cesareia no século III, The Ante-Nicene Fathers (‘Os Pais Ante-Nicenos’ – ou pré-nicenos), Vol. VI, página 3 diz,

"A Alexandria continua sendo a cabeça do aprendizado cristão... Já observamos a continuidade da grande escola de Alexandria; como ela surgiu, e como Panteno gerou a Clemente, e Clemente gerou a Orígenes. Orígenes gerou a Gregório, e assim o Senhor produziu a geração espiritual dos mestres da igreja, era após era, desde o início. Verdadeiramente, o Senhor deu a Orígenes uma semente santa, melhor que filhos e filhas naturais."