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Capítulo 3: A Era de Ouro do Universalismo

Quando Orígenes foi para Cesareia em 231 d.C., havia dois irmãos de uma rica família de Neocaesareia, em Ponto, que vieram estudar com ele por cinco anos. Eram eles Gregório (mais tarde chamado Taumaturgo, "Operador de Milagres") e seu irmão Atenodoro. Orígenes gerou nos irmãos um profundo amor pelas Escrituras, e esses foram provavelmente os primeiros a introduzir os ensinamentos de Orígenes naquela província do norte que é hoje a Turquia.

O Panegírico Para Orígenes foi escrito por Gregório na ocasião quando os dois se separaram. Um Panegírico é um discurso de elogio generoso escrito para um festival ou dia especial. De acordo com The Ancient History of Universalism (A Antiga História do Universalismo) escrito em 1829 por Hosea Ballou, Gregório "foi considerado entre os bispos mais eminentes da época." (p.130).

Orígenes também teve críticos, mas o extraordinário é que eles nunca opuseram seus ensinamentos sobre o Universalismo! No entanto, como os líderes da igreja se tornaram menos cristãos em suas atitudes e mais rígidos e pomposos em sua exibição religiosa, sua paixão pelo confronto começou a chegar ao estágio de frenesi. Hosea Ballou escreve na página 133,

"Em resumo, tão universal era a paixão pela censura, que dificilmente um indivíduo de eminência escapava da reprovação de qualquer lado que fosse".

Ballou faz uma consideração na página 147,

"Durante o longo período de quase um século e meio... não foi encontrado indícios de que o universalismo de Orígenes causou qualquer ofensa à igreja, embora seus escritos, nesse ínterim, terem passado pelo mais severo escrutínio e, terem sido frequentemente atacados em outros pontos... Mesmo alguns que trataram seu nome com injúria, e duramente censuraram várias partes de sua doutrina, passaram uniformemente em silêncio sobre o princípio proeminente da Salvação Universal".

Metódio, bispo de Tiro, é um bom exemplo disso, já que Orígenes havia morrido em sua cidade e foi sem dúvida enterrado ali. Metódio atacou o ensinamento de Orígenes de que, na ressurreição, os mortos ressuscitarão não com corpos físicos, mas como seres espirituais. Ele também atacou o ensinamento de que a bruxa de Endor havia realmente criado o próprio Samuel, e também de que os santos na eternidade se tornariam anjos e que todas as almas humanas foram criadas no início e, portanto, preexistiram antes de nascer na terra. No entanto, como aponta Ballou, "em toda sua (de Metódio) busca por erros, o Universalismo escapou sem censura" (p. 150).

Mais tarde, Pedro, um bispo de Alexandria, castigou Orígenes por ser cismático (causar divisão) simplesmente porque finalmente se apartou de um bispo tirano e carnal para viver em Cesareia, onde foi bem tratado.

Nesse meio-tempo, Orígenes foi muito admirado pela grande maioria dos líderes da igreja nos séculos III e IV, incluindo Eusébio, bispo de Cesareia, que foi de longe o mais sábio de todos os líderes da igreja de sua época. Seu livro História Eclesiástica é o primeiro do gênero, depois do próprio livro de Atos, a registrar a história da igreja até o quarto século.

Durante o quarto século, alguns dos homens mais importantes da igreja ensinaram abertamente que todos os homens seriam salvos: um grupo por crer em Cristo hoje, e o outro por meio de julgamentos na vida após a morte. Hosea Ballou declara na página 166,

"... que a doutrina da Restauração Universal não era considerada, pela igreja, herética nem mesmo impopular; e que o princípio da ortodoxia, no que diz respeito a esse ponto em particular, devia requerer, assim, apenas a crença na punição futura".

Desse modo, pode-se ver que mesmo o meu próprio ensino sobre o assunto teria sido considerado como ortodoxo nos séculos III e IV, mas, sem dúvida, teria sido atacado em muitos outros pontos – como foram todos. Naquele tempo, ninguém ensinava que os incrédulos seriam salvos à parte dos julgamentos, chamados de "fogo".

O universalismo hoje em dia é frequentemente definido pela ideia de uma salvação sem julgamento, sem prestação de contas, e é por isso que faço uma distinção entre Universalismo e Restauração. Meu ensino sobre a Restauração está próximo ao tipo de universalismo ensinado nos primeiros séculos da igreja. A única diferença é que o único "tormento" permitido pela lei se limita a um máximo de quarenta açoites, enquanto que eles tendiam a pensar no "fogo" em termos mais literais. Mesmo assim, estamos de acordo que o fogo é temporário.

Novaciano de Roma (por volta de 250 d.C.) escreveu em De Regula Fidei, IV, que,

"... as chamadas, ira e indignação do Senhor não são essas paixões igualmente denominadas no homem; mas aquelas que são operações da Mente Divina dirigidas unicamente a nossa purificação."

Aqui está pelo menos um pai latino que concordou com os pais gregos da igreja.

Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla (325-390 d.C.), junto com seu bom amigo Basílio, compilou uma coleção de escritos de Orígenes chamados Filocália, "Amor à Beleza". Gregório era conhecido como um dos quatro doutores da igreja do oriente. Gregório escreveu em Orat. XXXIX, 19, sobre o lago de fogo:

"Estes (apóstatas), se quiserem, podem seguir nosso caminho, que de fato em Cristo está; mas se não, deixem que sigam seu próprio caminho. Talvez em outro lugar sejam batizados com fogo, aquele último batismo, que não somente é muito doloroso, mas também duradouro; que devora, como se fosse feno, toda matéria contaminada, e consome toda vaidade e vício".

Robert Payne escreve sobre Gregório na página 179 de seu livro The Fathers of the Eastern Church (Os Pais da Igreja Oriental),

"De todos os Pais da Igreja, ele foi o único a receber, após sua morte, o título de 'Teólogo', que até esse momento era reservado a um apóstolo - João de Patmos".

Basílio, amigo de Gregório, (conhecido como "o pai do movimento monástico") tinha um irmão que também se chamava Gregório e que se tornou bispo de Níssa, uma cidade da Capadócia. Depois de Orígenes, esse Gregório nos deixou a maior riqueza de escritos sobre a Restauração Universal. Em seu comentário de 1 Coríntios 15:28, em que nos é dito que todas as coisas serão colocadas debaixo de Seus pés e Deus deve tornar-se "tudo em todos", lemos os comentários de Gregório:

" Assim, eu começo perguntando, qual é a verdade que o apóstolo divino pretende transmitir nessa passagem? É isto. No devido tempo, o mal passará à não-existência; desaparecerá totalmente do reino da existência. A bondade divina e pura englobará dentro de si toda criatura racional; nenhum único ser criado por Deus fracassará alcançar o reino de Deus. O mal que agora está presente em tudo será consumido como um metal derretido pela chama purificadora. Então, tudo que deriva de Deus será como era no início, antes de ter recebido a mescla com o mal.

Ao comentar especificamente a frase que Deus será "tudo em todos", Gregório afirma que "obviamente, Deus estará "em todos" somente quando nenhum vestígio do mal for encontrado em nada. Pois Deus não pode estar naquilo que é mal."

Fathers of the Eastern Church (Os Pais da Igreja Oriental) de Robert Payne, páginas 168 e 169, falam sobre esse Gregório,

"Dos três Pais Capadócios, Gregório de Níssa é o mais próximo de nós, o menos orgulhoso, o mais sutil, o mais comprometido à magnificência dos homens. Esse homem estranho, simples, feliz, triste, inteligente e atormentado por Deus foi possuído por anjos... No Cristianismo Oriental, seu (Gregório de Níssa) Grande Catecismo segue imediatamente após os Primeiros Princípios de Orígenes. Essas foram as duas obras seminais, trançadas estreitamente, surpreendentemente lúcidas, conclusivas... Atanásio foi o martelo, Basílio o comandante de popa, Gregório de Nazianzo o cantor atormentado, e foi deixado a Gregório de Níssa ser o homem maravilhado com Cristo... Quatrocentos anos após sua morte, no Sétimo Concílio Geral realizado em 787 d.C., os príncipes da Igreja reunidos lhe concederam um título que, aos seus olhos, excedeu os outros títulos concedidos aos homens; ele foi chamado de "Pai dos Pais".