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Capítulo 6: O Mal da Mortalidade Imposta

Todo julgamento pelo pecado é mau. Deus impôs a morte (mortalidade) sobre toda a humanidade quando Adão pecou, e essa foi a raiz de todo o mal subsequente no mundo cometido pelo homem como consequência dessa condição mortal ou fraqueza.

Muitos não entendem isso, e até mesmo os tradutores da Bíblia têm tentado corrigir os escritos de Paulo, pensando que ele cometeu um erro. Um mal-entendido chave é visto na tradução de Romanos 5:12 da NASB (New American Standard Bible),

12 Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.

A tradução acima parece afirmar que através de Adão o pecado entrou no mundo porque ele foi o primeiro pecador. E, daí, a morte veio como resultado do pecado. Então, quando Adão gerou filhos, essa morte (mortalidade) se espalhou para eles também — “porque todos pecaram”.

Ficamos com a impressão de que todos os filhos de Adão se tornaram mortais porque pecaram. A implicação é que se eles não tivessem pecado não seriam mortais. Mas, isso é incorreto e não é o que Paulo estava realmente dizendo.

A Concordância Literal do Novo Testamento (Concordant Literal Translation) traduz desta forma:

12 Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade, NA QUAL [eph ho] todos pecaram.

A frase grega, eph ho, significa “no/na qual; em que” e é o equivalente a “portanto”. Não significa “porque”. Isso é crucial, pois precisamos saber o que causou o quê. A humanidade se tornou mortal PORQUE pecou? Não, é o contrário. A mortalidade foi passada para a humanidade NA QUAL todos pecaram. A humanidade peca porque é mortal. A mortalidade é seu defeito fatal, sua fraqueza.

Portanto, a ordem dos eventos é esta: primeiro, Adão pecou. Deus impôs sobre ele a pena de morte, que conhecemos como “mortalidade”. A partir daí, descobrimos que todos os seus filhos também nasceram mortais. Essa mortalidade os tornou fracos e suscetíveis ao pecado. Portanto, todos pecaram.

A mortalidade foi o julgamento pelo pecado de Adão. A mortalidade é a primeira morte. A segunda morte é o julgamento legal pelo pecado de cada indivíduo. Logo, Apocalipse 20:13 diz: “eles foram julgados, cada um deles de acordo com as suas obras”. A segunda morte — o lago de fogo — não julga a humanidade pelo pecado de Adão, mas por seus próprios pecados. Portanto, Romanos 8:23 diz: “o salário do pecado é a morte”.

No entanto, existem dois tipos de morte. A primeira é a mortalidade, enquanto a segunda é a submissão à disciplina de Deus por meio do batismo de fogo. O fogo consome a carne, purifica o pecador e o transforma na imagem do Fogo que Tudo Consume  – que é o caráter de Deus. Os cristãos se submetem a esse julgamento divino durante sua vida; os não-crentes não, e dessa forma serão forçados a se submeterem no Grande Trono Branco.

O julgamento do Grande Trono Branco estabelece a justiça de Deus, pois não se trata de uma tortura eterna sem possibilidade de salvação. Tais conceitos de tortura eterna são, em si mesmos, julgamentos injustos segundo a lei divina define. Toda a humanidade será responsabilizada por suas ações no Grande Trono Branco se eles não se apropriaram da cruz de Cristo como pagamento por seus pecados.

Mas, tal justiça não absolve Deus de impor a sentença de mortalidade a toda a humanidade. Os homens nasceram mortais. Se eles fossem imortais e se tornassem mortais somente depois de pecarem, seria impossível para uma mulher perder um bebê durante a gestação ou fazer um aborto, pois ele ainda não teria tido a oportunidade de cometer nenhum pecado.

A morte, ou mortalidade, não foi uma pena injusta para o pecado e nem veio sem aviso a Adão. Porém, foi tecnicamente uma violação da lei de Deus para que Ele impusesse a pena de morte de Adão sobre os demais de nós antes mesmo de pecarmos. E assim, mais uma vez, ficamos com o problema do mal – o fato de que Deus impôs a pena de morte a todos pelo pecado de um homem, Adão.

Em realidade, essa imposição foi feita pela lei da liderança. Não podemos questionar a justiça de Deus a partir dessa perspectiva. No entanto, a própria lei proíbe julgar os filhos de acordo com os pecados de seus pais. Assim, lemos em Deuteronômio 24:16,

16 Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos, em lugar dos pais; cada qual será morto pelo seu próprio pecado.

Isso é afirmado pelos profetas, visto que Ezequiel 18:20 diz:

20 A pessoa que pecar morrerá. O filho não carregará o castigo pela iniquidade do pai, nem o pai carregará o castigo pela iniquidade do filho; a retidão do reto ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre ele mesmo.

Em um tempo quando era comum matar a família de um homem para vingar a ofensa de algum membro, a lei citada acima foi muito importante, pois estabelecia o reto padrão de Deus. Mas, por que parece de Deus fez exatamente o contrário? No caso de Adão, Ele não nos imputou o pecado dele impondo assim sua sentença de morte sobre nós?

Pelo próprio padrão da retidão de Deus, isso era injusto. A maioria dos teólogos hoje tem vergonha de admitir isso porque não podem apresentar nenhuma solução para o problema. Eles estão cientes de que a única solução possível é que Deus tenha a intenção de corrigir essa injustiça temporária salvando toda a humanidade. Porém, eles acham que essa solução é inaceitável, pois querem manter sua crença de que Deus pretende torturar as pessoas com fogo incessante para todo o sempre. Alguém imaginaria que se o amor de Deus habitasse nas pessoas, elas estariam procurando uma maneira em que Deus pudesse salvar toda a humanidade! Se a Bíblia ao menos sugerisse tal possibilidade, se esperaria que elas buscassem ansiosamente para ver isso seria possível.

Em vez disso, eu descobri que o oposto é verdadeiro. Na verdade, as pessoas se ofendem, recuam e dizem: “Quero te informar que uma das maiores bênçãos no céu será ver essas pessoas queimarem no inferno”. Outros ainda fazem disso um jogo, ensinando que os santos no céu aplaudirão enquanto os pecadores gritam de dor.

Isso não é cristianismo bíblico. Não reflete de forma alguma o caráter de Cristo nem o caráter da Sua Lei. A tortura não é um dos julgamentos da lei. Ela é uma das leis do homem que foi imposta a Deus e que agora ensinam em Seu nome.

Quando eu era jovem, me ensinaram a definir a morte como “separação de Deus”. Muitas Escrituras foram usadas para reforçar isso, mas quando finalmente estudei por mim mesmo em oração, descobri que a separação de Deus não era a definição de pecado, mas uma consequência natural da morte. Ser cortado da Fonte da Vida é certamente a morte. Entretanto, a separação é um subproduto imediato da morte, não a própria morte. Adão se escondeu de Deus e se separou DEPOIS de pecar. Redefinir a morte como “separação de Deus” distorceu as Escrituras e só causou confusão entre o significado de mortalidade e imortalidade.

Tal visão distorceu todo o significado da justiça divina. Enquanto Deus impõe a pena de morte para o pecado, os homens vieram impor a pena da tortura com fogo para o pecado. O propósito do julgamento divino passou de justiça para dissuasão, especialmente na igreja de língua latina, pois a mente romana valorizava “lei e ordem” mais do que a própria justiça. Sem dúvida, qualquer nação de disposição carnal tinha a mesma tendência, mas os romanos a aperfeiçoaram.

A verdadeira justiça, conforme definida na lei de Deus, faz da justiça prioridade de primeira ordem, ao passo que a dissuasão é secundária. O propósito da justiça é corrigir o pecador e restaurar o relacionamento com sua vítima que foi danificado. A justiça restaura a estabilidade à ordem divina por meio do equilíbrio. Portanto, a lei diz: “olho por olho” (Êxodo 21:24). Em outras palavras, o julgamento imposto pelo juiz deve sempre se adequar ao crime – nem mais, nem menos – embora a compensação monetária possa ser equivalente a um olho.

É por isso que a lei de Deus não permite a tortura por nenhum pecado, pois a tortura não passa de mera punição que não resulta na mudança do coração de um pecador e, tampouco, restaura um relacionamento danificado através da restituição. Quando o homem define “inferno” como uma tortura sem fim, alegando que isso é a justiça divina, é, na verdade, um “mal” do mesmo jeito que o homem vê o mal, pois não tem propósito exceto punir infinitamente. Ele só é “bom” para os homens motivados por vingança. Contudo, não é “bom” conforme a definição de Deus, pois o mal de Deus é bom porque sempre tem um bom propósito e é motivado pelo Amor.

Quando Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal, sua alma começou a governar seu espírito e ele começou a pensar de forma dualística. O bem e o mal foram separados em opostos em vez de dois aspectos do bem (isto é, Amor e Justiça). Assim, era inevitável que a Justiça fosse vista e definida como um oposto ao Amor, em lugar de um derivado do Amor e possuindo uma aplicação alternativa. À medida que esse dualismo avançou na filosofia religiosa, o “inferno” se tornou cada vez mais ardente na tentativa de conter o mal cada vez maior entre os homens. A dissuasão superou a justiça.

No entanto, Deus falou a Moisés e deu a Israel uma lei perfeita pela qual poderíamos conhecer Sua mente e saber como estabelecer um sistema de lei perfeito. É por isso que me surpreendo grandemente quando cristãos bem-intencionados temem a lei divina como se ela viesse de um Deus de Vingança. Eles fogem de tal Deus e se aproximam de Jesus, o Deus do Amor, sem saber que Jesus foi o doador da Lei que apareceu a Moisés enquanto Jesus estava em Seu estado pré-encarnado.

Essa mentalidade dualista torna a Antiga Aliança ("Testamento") contrária à Nova Aliança e tende a criar dois Deuses contrários: cada um com um propósito e caráter distintos. Não, a Bíblia é um único Livro e deve ser visto como uma revelação progressiva do Reino de Deus, com cada revelação fundamentada sobre os alicerces anteriores.

De todas elas, a ideia mais estranha é que a lei divina é de alguma forma mais temível do que o Deus da Nova Aliança, O qual pensam que impõe tortura aos pecadores. Na lei de Deus, roubar um dólar acarreta a justiça divina que diz que eu devo devolver dois dólares a minha vítima (Êxodo 22:4). Entretanto, a igreja em grande parte descartou a lei e depois a substituiu por suas próprias ideias de dissuasão, dizendo-nos que roubar até mesmo um dólar requer punição com a tortura eterna no inferno.

Isso não é justiça divina conforme definida na lei; é somente uma punição sem propósito imposta por homens carnais que afirmam saber o verdadeiro significado da justiça mais do que Deus. Sua filosofia dualista deixa o universo eternamente com céu e inferno, luz e escuridão, todos coexistindo perpetuamente sem pensar em restauração ou reconciliação. Tal fim separa o mal do bem, mas nunca reconcilia a criação como ensinam as Escrituras.

Quando Paulo afirma em Colossenses 1:16-20 que "o tudo" da criação é "o tudo" que foi reconciliado em Cristo, significa que isso só pode acontecer se a justiça divina for boa. E a justiça só é boa se tiver um bom propósito, e se for imposta em Amor. Qualquer coisa inferior à reconciliação de toda a criação, fica aquém das expectativas de Paulo para com Deus. Portanto, a justiça divina é eonian, não eterna, e restabelece o equilíbrio à ordem divina em vez de impor mera tortura.

Esse é o Deus da Bíblia.